quarta-feira, 3 de março de 2010

As Mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

De Manuel Alegre

Quantas vezes as crianças não tem a vontade de espetar o dedo num bolo acabado de fazer para saborearem algo doce?
Ao ler e reler o poema fiquei com a percepção que para o poeta a liberdade e todos os direitos são muito importantes para toda a nossa vivência, como diz na última frase do poema “nas tuas mãos começa a liberdade”.
Sabemos que a paz no mundo começa dentro de nós, quando nos aceitamos a nós próprios e aos outros pelo modo de ser, e por isso com as mãos se faz a paz e se faz a guerra, ou seja, elas são capazes de fazer e desfazer. São elas que fazem das diferenças, as chamadas guerras e também são elas a base da convivência, a chamada paz - em vez de se ver mil pedaços fragmentados, consegue-se imaginar o inteiro real.
Quando o poeta diz que “com as mãos se rasga o mar” interpreto, que as mãos são passageiras no tempo e no espaço como o dito mar que no real é instável. Com as mãos não existe o medo de errar, mas sim a vontade de aprender com os gestos que se multiplicam, enquanto que as palavras ficam caladas com o objectivo de alcançar a liberdade que é falada em todo o poema.
Para concluir a minha reflexão, as mãos são sem dúvida muito importantes para as nossas tarefas diárias e em tudo mais, definem-se como arte que dá lugar á liberdade.

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